O vídeo de uma operação da Polícia Civil na Favela do Rola, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, uma das mais perigosas da cidade, mostra os agentes forjando um auto de resistência, mudando o corpo de um dos mortos de lugar - segundo a corporação, foram cinco vítimas ao todo na ocasião. As imagens, obtidas com exclusividade pelo EXTRA, são produto de duas câmeras, uma num helicóptero e outra afixada à cabeça de um dos policiais. A ação aconteceu no dia 16 de agosto de 2012.
A gravação tem início com um helicóptero (Água 3) monitorando um bar, onde há venda de drogas e dois bandidos portam fuzis. Moradores - incluindo crianças e mulheres - passam normalmente pelo local. Minutos depois, já com as ruas desertas, uma segunda aeronave (Águia 2) abre fogo por seis minutos contra o refúgio dos traficantes. Não é possível ver, em momento algum disparos feito da terra em direção à aeronave.
Mais tarde, após desembarcarem de um dos helicópteros, policiais correm até o bar metralhado. Lá, ao lado da equipe que chegou por terra, em um veículo blindado, todos comemoram com abraços e sorrisos ao encontrar três corpos. Os agentes falam repetidamente em acionar o socorro, embora as mortes já tenham sido constatadas.
Em seguida, uma outra vítima é encontrada numa casa próxima. “Ele ‘tava’ com arma?”, pergunta um agente, recebendo uma negativa como resposta. “Tem que fazer a contagem rápida, irmão”, afirma outro. É a deixa para o grupo, com a ajuda de um lençol vermelho, transportar o corpo em ritmo acelerado por cerca de 70 metros e abandoná-lo no bar que era reduto do tráfico.
Procurada pelo EXTRA, a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, se manifestou por meio de nota: “Em relação à operação na Favela do Rola, em Santa Cruz, há um inquérito em andamento na 36ª DP (Santa Cruz) que investiga os homicídios. Testemunhas ouvidas no dia do fato confirmam que houve confronto entre policiais e traficantes. Na ocasião, policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) apreenderam quatro fuzis, uma espingarda, duas pistolas, 67 cartuchos, além de drogas e dinheiro. Também foi realizada perícia de local e do material apreendido. O caso foi registrado como homicídio proveniente de auto de resistência”.
O delegado Ricardo Barbosa, titular da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), não foi encontrado para comentar as imagens. Também contatados, não quiseram falar sobre o caso o subchefe operacional da Polícia Civil, Fernando Veloso, e Adonis Lopes de Oliveira, que comandava o Serviço Aeropolicial (Saer) na época. Adonis pilotava um dos helicópteros, a exemplo do que ocorreu na ação que matou o traficante Matemático, em abril de 2012, na Favela da Coreia, em Senador Camará, também na Zona Oeste.